Meo, isso é muito Black Mirror! A expressão que já virou meme nas ~interwebs~ se deve à série, criada por Charlie Brooker, que desde 2011 está deixando as pessoas… cabreiras com a tecnologia.
Disponível no Netflix, é uma série sem personagens fixos. Ou seja, cada episódio é uma estória em si só, não precisa acompanhar na ordem. Já na terceira temporada, a série é conhecida por projetar possíveis consequências do uso das tecnologias num futuro não muito distante. Já são 13 episódios de, em média, uma hora.
Cada episódio coloca uma tecnologia, ou um aspecto de uma tecnologia, em pauta. Em The Entire History of You, da primeira temporada, por exemplo, praticamente todas as pessoas têm um implante atrás da orelha, chamado “grão”, que é uma espécie de HD capaz de gravar tudo aquilo que os olhos vêem. Assim, é possível rever os acontecimentos (quando os olhos dos personagens ficam com a íris fosca, é sinal de que estão revendo suas memórias), ou mesmo projetá-los numa tela para que outras pessoas possam ver as coisas a partir do seu ponto de vista. O episódio discute as consequências disso nos relacionamentos pessoais.
Já na segunda temporada, temos por exemplo o episódio White Bear, onde uma mulher acorda num quarto estranho e, ao sair procurando por alguém, depara com vários estranhos filmando-a em seus celulares, sem interagir com ela. Mais tarde, aparecem pessoas vestidas com máscaras bizarras, tentando atacá-la. Depois de passar por muitos perrengues, ela finalmente descobre o porquê de ter passado por tudo aquilo.
Na terceira temporada, que estreou recentemente, o episódio Nosedive mostra a vida de uma mulher que busca ascensão social conseguindo mais “likes” numa rede social que todo mundo acessa o tempo todo e na qual é possível dar até cinco estrelas para as pessoas que interagem com você. Pessoas com pontuações altas têm vantagens (por exemplo na hora de alugar um imóvel) e são populares, enquanto quem não tem muitas estrelas acaba virando uma pessoa excluída da sociedade. Dá inclusive para fazer um teste online e descobrir quantas estrelas você teria no universo do episódio. (A redatora deste post fez o teste e informa que vale 1,5 estrelas.)
Muito bem produzida, com bons roteiros e um ritmo muito bacana, a série é daquelas que gruda a gente no sofá durante um fim de semana todo pra fazer maratona. Dá pra curtir muito, embora haja grandes chances de que essa seja a sua cara ao final do processo:
Porque nós do ArraStart somos fãs
Porque achamos que a série acerta em cheio ao criar um futuro que nem está próximo demais de nós para barecer banal, nem longe o suficiente para parecer impossível. É um meio-termo entre uma série de ficção científica e um drama contemporâneo. A visão que a série traz sobre as tecnologias, embora meio sombria, não é um “chute” – na verdade, muitas das tecnologias apresentadas já existem ou estão em desenvolvimento, embora talvez não tenham se popularizado. Justamente por tratar de algo próximo da nossa realidade a série nos faz ver as tecnologias com outros olhos, pensando nas suas consequências não só para as empresas e o mercado mas também para as relações entre as pessoas.
Pensando nos episódios citados, é possível fazer paralelos com coisas já velhas conhecidas nossas: a possibilidade de “rever memórias” em The Entire History of You já é em grande medida possibilitada pelo Facebook, que mostra aos usuários as “lembranças” dos anos anteriores, e mesmo pelas mensagens de WhatsApp que vão ficando arquivadas, permitindo que a gente leia e releia aquilo que enviou ou recebeu. Já White Bear nos soa familiar quando lembramos de situações nas quais, em vez de ajudar alguém em perigo, as pessoas preferiram filmar o acontecimento – principalmente se acreditavam que aquela pessoa não merecia ser ajudada por algum motivo. (Também me faz lembrar da Carreta Furacão, mas aí acho que é prolema meu.) Nosedive nos parece ainda mais próximo – quem não lembra daquele esquema de avaliar os amigos no Orkut?
Outro exemplo de ranking da vida real, hoje, são os motoristas da Uber. No aplicativo, usuários avaliam motoristas dando a eles até… cinco estrelas. E os motoristas também avaliam os usuários. Motoristas com menos de 4,6 estrelas podem ser suspensos do serviço. Usuários também podem sofrer restrições se tiverem avaliações baixas. (Neste caso, a redatora do post consultou o app e descobriu que está melhor na fita: como passageira, tem 4,88 estrelas.)
Ou seja, algumas das coisas retratadas na série podem estar mais próximas de nós do que pensamos. Basta abrir os olhos!